quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O TEU SANGUE





Por Luis Henrique Fontes *

A mão que te açoita não se esconde, te difama, te enfrenta e te ofende na lama, na palma da cama, e você de cego Justo, neste absurdo onde tuas costas sangram, pois esta é a tua herança, tuas cicatrizes escritas em cinza. Descritas na tua história, que hoje negas, pois és renegado desta sociedade que é mais tua do que daqueles que te açoitam.
Somos a maioria em menor força, e a morte nos espreita nas sombras dos olhares.
Há um grito na noite a fora que te espera em ruas estreitas, e você se esforça para não ouvir.
Não temos o necessário para mudar a honra da hora de mudar, a não ser nossas mãos e nossa vontade.
Mas se morrer é o preço de ser livre, morra sem se ajoelhar.
O sangue jorra das costas nuas dos mesmos negros, e os carrapatos de sua alma carregam capatazes, que hoje são soldados oficializados no oficio de matar.
E neste oficio de morte o que nos salva é a sorte de nos escondermos deste destino forte.
A beira do abismo salte ou lute, mas não desfrute do desejo de se entregar.
Seja o exu da ignorância deles,dentro do medo que trazem com o ódio no olhar.
Seja exu a traduzir idéias, que o homem não pode conceber.
E na corda bamba deste circo armado para nos ver morrer, corra mate ou morra, mas não deixe sua alma em branco corromper.
Seja Zumbi além do tempo, seja seu herói negro, de asas de ferro, E lanças de fogo.
Vença, pois é o que te resta. O resto é retardo de uma vida não sua, de uma obrigação aguda destes tempos obtusos.
Mas saiba que no auge disso tudo, teus ancestrais não ficarão mudos, e hão de te cobrar pela inércia da tua covardia.


Luis Henrique Fontes  é escritor, militante do PCdoB


Um comentário:

  1. "A beira do abismo salte ou lute, mas não desfrute do desejo de se entregar.
    Seja o exu da ignorância deles,dentro do medo que trazem com o ódio no olhar.
    Seja exu a traduzir idéias, que o homem não pode conceber."

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