segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

“No Brasil, seis famílias controlam 70% da informação”, diz fundador do Wikileaks



Refugiado na embaixada do Equador em Londres, Julian Assange, fundador do Wikileaks, recebeu o jornalista Jamil Chade, correspondente do Estado de S. Paulo, para falar sobre sei livro Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet, que está sendo lançado no Brasil pela Boitempo Editorial. Na entrevista, ele disse que um dos principais problemas da América Latina é a concentração da mídia. “No Brasil, seis famílias controlam 70% da informação”.
Leia, a seguir, os principais trechos da conversa:
A web como arma
Tecnologia produz poder, a ponto de a história da civilização humana ser a história do desenvolvimento de diferentes armas de diferentes tipos. Por exemplo, quando rifles eram as armas dominantes ou navios de guerra ou bombas atômicas. Desde 1945, a relação entre as superpotências era definida por quem tinha acesso a armas atômicas. Hoje, a internet redefiniu as relações de força antes definidas pelas armas. Todas as sociedades que têm qualquer desenvolvimento tecnológico, que são as sociedades influentes, se fundiram com a internet. Portanto, não há uma separação entre sociedade, indivíduos, Estados e internet. A internet é hoje o alicerce da sociedade e conecta os Estados além das fronteiras. Conhecimento é poder.
Vigilância global
A comunicação entre indivíduos ocorre pela internet. Sistemas de telefone estão na internet, bancos e transações usam a internet. Colocamos nossos pensamentos mais íntimos na internet, detalhes, como diálogos entre marido e mulher e até nossa posição geográfica. Enfim, tudo é exposto na internet. Isso significa que grupos envolvidos na vigilância em massa realizam uma apropriação enorme de conhecimento. Esse é o maior roubo da história.
Google e Facebook
O Google sabe o que você estava pensando. E sabe o que você pensou no passado, porque quando você quer saber algum detalhe, busca no Google. Sites que têm Google Adds, ou seja, todos os sites, registram sua visita. O Google sabe todos os sites que você visitou, tudo o que você buscou. Ele te conhece melhor que você. Você sabe o que você buscou há dois dias? Não. Mas o Google sabe. Alguém pode dizer: o Google só quer vender publicidade. Mas, na realidade, todas as agências de inteligência dos EUA têm acesso ao material do Google. Eles acessaram isso em nosso caso.(…) Países como a Islândia têm uma penetração no Facebook de 88%. Mesmo que você não esteja no Facebook, seu irmão está e está relatando sobre você.
Uso pela CIA
Pessoas querem compartilhar algo com meus amigos e amigos de meus amigos, mas não com meus amigos e com a CIA. As pessoas estão sendo enganadas.
Concentração de mídia
[Rafael Correa, presidente do Equador] deveria atacar mais. A primeira responsabilidade da imprensa é a precisão e a verdade. O grande problema na América Latina é a concentração na mídia. Há seis famílias que controlam 70% da imprensa no Brasil, mas o problema é muito pior em vários países. Na Suécia, 60% da imprensa é controlada por uma editora. Na Austrália, 60% da imprensa escrita é controlada por (Rupert) Murdoch. Portanto, quando falamos em liberdade de expressão, temos de incluir a liberdade de distribuição, uma das coisas mais importantes que a internet nos deu.
Revelações sobre o Brasil
Sim. Publicaremos muito sobre o Brasil neste ano.
http://www.folhademaringa.com.br/no-brasil-seis-familias-controlam-70-da-informacao-diz-fundador-do-wikileaks/

2 comentários:

  1. O grande problema na América Latina é a concentração na mídia. Há seis famílias que controlam 70% da imprensa no Brasil, mas o problema é muito pior em vários países. Na Suécia, 60% da imprensa é controlada por uma editora. Na Austrália, 60% da imprensa escrita é controlada por (Rupert) Murdoch.

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  2. Se levarmos em consideração que países como Suécia e Austrália a massa da sociedade, para não dizer mais de 95%, têm acesso a internet e possuem computadores pessoais, percebemos que o Brasil tem grande possibilidade de avançar no acesso a informação e na disputa por um espaço midiático mais democrático. Milhões de pessoas em nosso país estão distante da internet e dos computadores. Lutar, na forma de guerrilha digital, nas frentes institucionais por programas e projetos que garantam o acesso a informação de maneira isenta e verdadeira deve ser uma bandeira que devemos defender em todos os fóruns de debate.
    A concentração do poder midiático no Brasil esta diretamente ligado as famílias que reproduzem um modelo coronelista de política em seus rincões de poder. Na Bahia, Maranhão, Rio Grande do Norte e tantos lugares do Brasil que a concentração da Mídia acaba permitindo a eleição do Senhor Renan Calheiros (mentor do governo Collor de Melo), sr. Henrique Eduardo Alves (40 anos dominando a oligarquia da RN), sr. José Sarney ( e sua família que dirige o Maranhão, um dos Estados mais pobres da Federação) ou ainda a família ACM na Bahia (criada nas tetas da ditadura ganhou o domínio e a hegemonia do poder de comunicação no Nordeste)...
    Então a esperança de redefinirmos as relações de força está na saída de milhões de Brasileiros dos níveis de miséria absoluta e a entrada no mercado (desta nova cidadania mercantilizada)como cidadãos mais pragmáticos e dispostos a romper com as tradicionais e conservadoras de poder.

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