sábado, 5 de maio de 2012

Fale-me sobre política que direi quem tu és...-Memórias de Um Alienado – Parte 3


Memórias de Um Alienado – Parte 3 Fale-me sobre política que direi quem tu és...





















Por André Lux
Dando sequência às minhas "Memórias de Um Alienado" (clique aqui para ler a 
parte 1 e a parte 2), vou falar agora sobre o que aconteceu com minha vida
 depois que deixei de ser um papagaio da direita e fui conscientemente para 
a esquerda.

A primeira conseqüência é positiva. Trata-se, claro, de deixar de ser um boçal 
alienado convicto que fica dado palpite em tudo quanto é assunto sem 
entender nada do que está sendo dito – só para fazer de conta que entende
 ou então, pior, para irritar “esquerdistas”. Quando você passa a ter consciência 
das coisas e “sai da Matrix”, percebe que é muito melhor ficar quieto escutando 
o que os outros tem a dizer.

Isso me ensinou grandes lições que todo boçal alienado convicto não conhece,
 tais como: ser humilde, saber ouvir, entender que quanto mais você aprende 
mais percebe que nada sabe e que não conseguir admitir tudo isso é coisa de
 gente fraca e covarde.

Agora vem o lado ruim. O problema de você sair da direita e ir para a esquerda, 
especialmente quando ainda é adolescente, é o choque de perceber quanta
 gente que antes dizia te adorar vai começar a tratá-lo como o se fosse o
 belzebu em pessoa! Comigo não foi diferente.

Familiares, amigos e conhecidos, que antes apertavam minhas bochechas, 
davam tapinhas nas costas e me elogiavam quando eu concordava com o que 
diziam, de repente passaram a me xingar e agredir só porque ousei defender 
o Lula ou o Fidel Castro. Assim, de “menininho querido da titia” me transformei 
“naquele moleque perdido que sofreu lavagem cerebral dos comunistas”. E de
 nada adianta você tentar dizer que ninguém fez lavagem cerebral em você, 
muito pelo contrário: antes é que faziam...

Comigo foi assim. Lembro até hoje do dia que, depois de deixar de ser um 
papagaio da direita, cheguei em casa e resolvi falar sobre política com meu pai
 – coisa que nunca tinha feito antes. Imaginem a cena. Eu, com 18 anos, todo
 empolgado querendo falar com meu velho sobre aquelas coisas novas que 
tinha aprendido, de repente sendo tratado com um trapo sujo e repelente! 
Sim, foi isso que aconteceu. Foi só eu falar todo ingênuo que ia votar no
 Lula e pronto. Só faltou me dar um sopapo na orelha!

E com minha mãe não foi diferente. Nem com o vizinho, que de velinho 
simpático e bonachão, transformou-se num clone do Adolf Hitler assim 
que eu falei bem do “sapo barbudo”! Meus amigos de infância então, 
nem preciso dizer o que aconteceu, preciso? Óbvio: foi só eu falar da
 minha nova ideologia que começaram todos a me ridicularizar e repetir 
aquelas papagaiadas “para irritar esquerdista”...

Foi nessa época que aprendi uma coisa triste. As pessoas só revelam mesmo quem realmente são e o que pensam quando falam de política. O sujeito pode ser o mais bonzinho do mundo, fã de Beatles, Pinky Floyd e dos filmes de Walt Disney, amante da paz e da natureza, mas na hora que começa a falar de política transforma-se, como aquele meu vizinho, numa cópia mal feita do Hitler e passa a vomitar preconceitos, elitismo, racismo, homofobia, ignorância e outras nojeiras que deveriam deixar qualquer pessoa com bom senso envergonhada. E olha que estou falando aqui de pessoas de classe média, que tiveram acesso a tudo do bom e do melhor em relação a 
estudo e cultura!

Nem preciso dizer que, daquela época em diante, perdi muitos “amigos” 
e deixei de ser o “queridinho” de muitos familiares, que passaram a me
hostilizar ou me irritar constantemente com provocações baratas e ridículas.
 Por que eu não percebia o quanto aquelas pessoas eram rancorosas, odiosas 
e preconceituosas antes, perguntava-me. A resposta é simples: porque antes 
não falávamos de política, exceto talvez para repetir um ou outro jargão idiota 
da direita, do tipo “detesto política” ou “político é tudo igual”.

E tem gente, incluindo familiares e amigos, que ainda fazem isso comigo até hoje. 
Nem preciso dizer também que, depois das duas vitórias do Lula e da ascensão
 de políticos como Chávez, Evo Morales e afins, tudo ficou ainda pior e até 
aqueles que conseguiam disfarçar um pouco melhor seus ódios perderam 
completamente o controle!

Depois de todas essas experiências, criei uma máxima que, infelizmente,
 continua valendo até agora: “Fale-me sobre política que direi quem tu és”...
http://tudo-em-cima.blogspot.com.br/2009/10/memorias-de-um-alienado-parte-3-fale-me.html


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